Acho interessante como as pessoas tem um gatilho rápido para
julgar gente do sexo feminino.
Vamos lá, pensem comigo: desde criança lidamos com a
disparidade de tratamento entre meninas e meninos. Não somente através dos
pais, mas na escola, na rua, entre parentes, enfim, na sociedade inteira.
Meninas tem que sentar de pernas fechadas, meninos não tem o
corpo controlado, podem até mijar na rua.
Controlar o corpo é uma forma bastante eficiente para se controlar a
espontaneidade de uma pessoa.
Enquanto os meninos estão brincando na rua, as meninas são
obrigadas a ajudar nas tarefas domésticas, para depois ir brincar.
Os meninos do barulho aprontam altas confusões na rua (a
vida imita a Sessão da Tarde ou essa imita a vida? rs). Andam de skate, brincam
de lutinha, sobem na árvore, caem, se machucam. As meninas, por serem
consideradas mais frágeis, permanecem em uma redoma de proteção. Que perigo há
em brincar de boneca e casinha?
Entra também a lógica de proteger a sexualidade da menina. O
menino vai ser incentivado a pegar todas, enquanto a menina vai crescer
ouvindo, mesmo que em tom de brincadeira, que só vai namorar com 18 anos e olhe
lá.
E quando crescer, essa lógica vai ser utilizada, mesmo que
sutilmente. Ela vai enfrentar mais barreiras pra levar o namorado em casa
(falando de relacionamentos heterossexuais, se eu incluir a homossexualidade
aqui o texto vai ficar muito longo), viajar com o namorado etc.
Aí cresce mais um pouco, os pais incentivam mais o menino a
dirigir do que a menina. Além de nos “proteger” do perigo, todos sabem que
mulher no volante é um perigo constante, não é mesmo? A lógica estranha é a das
seguradoras, mais caras para os homens, que se envolvem mais em acidentes,
enfim...
Aí a menina, que não pode ser espontânea e não pode ser ela
mesma, pelo menos não na frente dos pais, não deixa de ser um ser humano e ter
vontade de fazer coisas. E se puder, vai fazer. Vai demonstrar sua
espontaneidade com amigxs, vai fazer coisas absurdas como satisfazer a vontade
de beijar o Zezinho (ou a Zezinha) da escola, ou de sentir a liberdade do vento
no rosto, andando em uma moto (normalmente na garupa), sair, rir alto, fumar, beber, dar opiniões, demonstrar personalidade e, pasme,
até mesmo fazer sexo.
Obviamente que não estou falando de todos os lares, da
criação de todas e todos, da vivência de todo mundo. Porém, é algo comum.
Muitas vezes estamos sendo opressores e
não percebemos.
Update: uma coisa que eu queria ter frisado (e acabei esquecendo) é que sendo criança ou adolescente, dificilmente é simples tocar o foda-se e enfrentar os pais, já que somos dependentes dos mesmos.
Update: uma coisa que eu queria ter frisado (e acabei esquecendo) é que sendo criança ou adolescente, dificilmente é simples tocar o foda-se e enfrentar os pais, já que somos dependentes dos mesmos.
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